Tebas - uma crítica!

Imagine uma tragédia. Uma tragédia grega. Imagine uma tragédia grega. Agora, imagine duas tragédias reunidas. Gregas. E se se ouvisse falar em três tragédias gregas juntas, o que se diria? Inexplicavelmente ilógico, irracional, impensável. E quatro tragédias gregas? Quão gregas? Quão trágicas? Pois é. Inacreditável. Um força hercúlea, de apropriação dramatúrgica, de síntese, de bom senso. Foi o que fez o Luís Mármora com a galera da Escola de Arte Dramática da turma 60. E a Lucienne Guedes.
Uma reunião de seis tragédias gregas, adaptadas em dramaturgia palatável para os padrões absorventes da contemporaneidade moderna, traz à tona, no seu conceito menos mítico, intrínseco às relações de razoabilidade sensível da família real em sua conexão direta com a malha divina, o interesse mais puro no sentido catártico da palavra, embora de catártico tal palavra não se imbua.
Mas voltemos a Tebas, onde se passa a trágica narrativa na qual se perdem umas tantas vidas, outras tantas esperanças, alguns anseios, dois olhos, os de Édipo, para ficar só no rol exemplificativo básico, cujo cerne motivacional foi o ápice da transmutação parapsicológica da psicopatologia edipiana, quase tão bem explicada pela funcionalidade psicoterapêutica de Freud, onde o filho come a mãe e mata o pai. Numa sociedade atual, até que soaria tranqüilo. Vide os noticiários sensacionalistas do Datena, por exemplo. Mas, no âmbito da estrutura mitológica do herói, a fúria dos deuses é implacável. Édipo será condenado à pior das prisões. Sem celular nem advogado.
Uma encenação enxuta, objetiva, simpática. Com atores cenicamente fortes. Um bom espetáculo.

A Vida é Sonho - uma crítica!

Um dia você acorda e vira um príncipe.
Dado pela particular expressão, conhecida dos vários contos infantis, poder-se-ia imaginar estar-se falando de alguma história qualquer em que o sapo vira príncipe. Não. Por nenhum momento pode-se dizer que tal expressão vem de algum desses contos pra criança dormir. Negativo. De infantil, essa história não tem nada. Muito pelo contrário. Dir-se-ia um mítico mistério que assombra o PPP (Príncipe Prisioneiro da Polônia). É uma envolvente história que mescla o sonho e a realidade, a realidade e a ilusão, a ilusão e o sonho, que é a vida, e a vida é sonho.
Chegamos ao ponto. A Vida é Sonho. Texto de Calderon de La Barca, com direção da Isabel Setti com os meninos e meninas do segundo ano da Escola de Arte Dramática.
Um exercício cênico de bastante força e potência, no qual a palavra ganha sua exata dimensão através das faringes laringes gargantas lábios bocas dentes língua dos atores. A força motriz da cundaline se faz presente na presença corporal trabalhada pelo queridíssimo Fabiano Benigno.
Lindas canções. Belíssima divisão de vozes. Pleno preenchimento sonoro da caixa acústica. Certeiras imagenssonoras.
Bonito exercício. Forte. Preenchido. Parabéns.

Diário Baldio - crítica!

Os factóides e ocorridos cosmonopolitas sobrevoam as camadas de urbanidades flagrantes em sua insegurança propiciada pelo desmembramento ilustre da democracia, como exemplo singelo mas não exaustivo de como lidar com as percepções básicas de civilidade.
Por outro mas convergente vértice, não se pode negar uma gigantesca transferência do foco institucionalista para a beleza de geometrias triangulares refletidas nas máscaras, tão bem construídas lá no Barracão.
O Esinho e o longilíneo Gabriel travestem, ou melhor, transportam, ou ainda, transferem suas figuras e qualidades ao molde corporal proposto, em favor da máscara. A Tiche dirige.
As contemporâneas sugestões para se compor dramaturgia se ambientam numa necessidade de imbuir-se de, incutir a si, preencher-se de muita vontade de entender o que se passa com as pessoas.
A direção é precisa e a presença cênica corporal dos atores mais ainda. O trabalho é belíssimo. Todos eles merecem uma salva de palmas.
‘Diário Baldio’ nasce de uma possibilidade e, acima de tudo, de uma necessidade de investigação do cotidiano, de transformá-lo em cena para, só então, transformá-la, a cena, em texto. Totalmente apropriado pelos atores, os dramaturgismos, em seus diversos níveis, suplantam, extrapolam a divergência neuropsicossomática das máscaras.
Trata-se de uma pesquisa belíssima desenvolvida na rua, em sala de aula, uma pesquisa de linguagem, métodos urbanitários, máscaras, etc.

POLICARPO QUARESMA - crítica

POLICARPO QUARESMA – crítica
A partir da obra literária de Lima Barreto, Antunes Filho coloca em cena a realidade com suas máscaras desveladas. A ironia presente na trilha sonora, por exemplo, nos leva a uma sensação de delírio plena, permeada pelo ufanismo engraçadíssimo de Policarpo Quaresma, sua figura principal. O excêntrico e protuberante Policarpo, vivido por Lee Thalor, nos faz imaginar no mínimo bizarra toda a estrutura político-social que o envolve. Os devidos paralelos e suaves comparações nos remete a uma dimensão analítica, conquanto as diferenças se desdobram na estética extremamente teatral, dirigida por Antunes. Os movimentos coreográficos bem finos, ordenados e sincronizados pelo grupo de atores jovens do Macunaíma, são bem razoáveis. Talvez, contudo, poder-se-ia considerar a possibilidade de abrir mão de poucos momentos repetitivos, excessivos. Um belo espetáculo. Bela atuação de Lee Thalor. Em cartaz no SESC Consolação.
Seu Molina

FATZERBRAS – um doideira performática pós dramática velociráptica

Brasileiros e Alemães erradicados na multi simultânea realidade caótica. Ainda mais quando se fala no Bertolt Brecht. Do texto inacabado de sua autoria, “O declínio do egoísta Johann Fatzer”, surge uma apoteótica demonstração das rupturas desfragmentadas de sentido linear. O caráter performático das pedras fundamentais nos trazem à luz uma gama perpendicular de sentido - considerando-se como elementar o próprio distanciamento brechtiano – sedimentado nas breves e impactantes cores e formas das imagens de vídeo-clipe., embora de tal recurso não se utilizaram para a encenação, que tem residência temporária no SESC Pompéia . As multi simultâneas imagens bombardeiam de potencialidade a própria estrutura do espaço, principalmente. A síntese do texto, que de inacabado, possibilitou uma construção dramatúrgica e interpretativa. É chocante. E radical.
Seu Molina

RODÍZIO, EM POUCAS PALAVRAS!

RODÍZIO

Rodízio de carne. Rodízio de sushi. Rodízio de carros. Essa questão do horário é algo que...
Uma perturbação culmina na urbanização.
Precisamente, quando as cinco badaladas vespertinas badalarem no coração da terra da garoa, a xenoplacafobia transpirará por todos os poros, inebriando, qual xarope expectorante pulverizado, as ojerizas que os robôs de capacetes amarelinhos infeccionariam, não fosse a metáfora sustentável.
A saída de emergência para cruzar o rio a tempo antes que a câmera flagre o seu número. Ou o robô amarelinho que tem um apito e uma caneta. Ou o GPS. Controle total. Tensão absoluta. Crise. Faltam dez minutos para as cinco badaladas soarem e a distância a ser percorrida é longa. Uma maré de luzes de freios ilumina o horizonte vermelho. Pé no acelerador. Vamos lá. Sai da frente, ô barbeiro!
E faltam sete minutos para a síncope numerológica voltar-se contra si num movimento de auto-acusação, qual uma força magnética entre a lente e a placa.
O semáforo ao longe fica vermelho.
Falta um minuto. Pé no acelerador, vamos lá, sai da frente, ô barbeiro. O ponteiro aproxima-se do marcador imponente ao norte. E o ponteiro, num movimento brusco e repetitivo, vai cortando o vento e fazendo vrum, vrum, vrum, ultrapassa a barreira limítrofe entre o bom senso e a intolerância e dispara o alarme sensorial da perturbação de que falava há pouco.
Cinco badaladas ecoam. O olho procura o sentido. A catarse se inverte numa manifestação de quase pânico, de tal forma que nem se percebera que já cruzara o rio.

ASSASSINATO DO ANÃO, DE PLÍNIO MARCOS - UMA CRÍTICA

A radicalidade imanente do texto de Plínio Marcos, a força de suas relações entre as personas complexas, as potenciais e inúmeras camadas a serem exploradas, viabiliza, por um lado, um campo exploratório infindável de multi tentaculares possibilidades frente ao texto.Todavia, por outro lado, ainda que pese, na maioria dos casos, uma tendência de superação [embora aqui se trate de outra coisa] das dificuldades resultantes deste confronto com a dramaturgia de Plínio Marcos, seria muito arriscado negligenciar todas estas possibilidades, quer sob o ponto de vista da pesquisa, quer sob a visão concepcional da questão.
Há, contudo, ainda que se coloque em xeque, uma tentativa de superar as dificuldades, suplantando-as por uma via pré-programada de defesa, mas com alegria e verdade, na maioria das vezes.
A esse respeito, vale lembrar do risco que se corre ao encenar um texto de Plínio Marcos, no caso o “Assassinato do anão do caralho grande”. Trata-se de um texto que exige muita maturidade. Maturidade para compreensão do que se diz, para reflexão e análise profunda das várias camadas que o texto atinge. Não obstante, é possível vislumbrar apontamentos muito interessantes, tais como figuras extremamente delineadas, outras tantas configurações corais bastante consistentes, ou ainda algumas conexões entre atores bem fortes. Porém, repito, tudo isso está rarefeito de seu sentido, pois não se o encontrou. É necessário aprofundar nas camadas de compreensão do texto. Não se pode dizer interessante, nos dias de hoje, uma cortina que é apenas uma cortina ou um carretel de madeira gigante que é apenas um carretel de madeira gigante.
Por fim, gostaria de deixar aqui registrado que os atores da turma 60 da EAD são uns lindinhos. Adoro eles todos!

Seu Molina!
(espetáculo da turma 60 da Escola de Arte Dramática - julho de 2010)

ENSAIO SOBRE A SURPRESA!

ENSAIO SOBRE A SURPRESA

Imagine você sentado num dos oitocentos lugares do Teatro Municipal, assistindo a uma ópera lindíssima, vinda diretamente da companhia sinfônica dos Países Baixos, sob a regência de um maestro norte americano, ao som de Wolfgang Amadeus Mozart. Agora imagine que, apesar de o ingresso custar de trezentos a quinhentos reais, você não pagou nada porque o seu vizinho do andar de baixo ganhou na promoção da rádio cultura mas não ia usar e lhe ofereceu e você pensou “Se custa tão caro, deve ser bom. Se estou pagando nada, porque não?” Ainda que muitos não admitam, esse raciocínio é bastante corriqueiro. Ora, quem nunca ouviu aquela expressão que de tão usual quase já se tornou um jargão popular, no qual se diz que de graça até injeção na testa? O fato é que o empreendimento da cortesia é bastante difundido entre aqueles que, por uma razão ou outra, gostam de um entretenimento gratuito, mesmo que não saibam do que se trata. E, assim, voltamos ao rumo inicial do ensaio, que diz respeito a surpresa em si. Imagine, então, que você está lá sentado numa das poltronas do Teatro Municipal e a ópera já começou e você está achando um pouco chato. O movimento da sinfonia praticamente te embala para um sono bem gostoso. Mas você resiste. Afinal, você está no Teatro Municipal, no meio de pessoas potencialmente importantes e endinheiradas, que supostamente pagaram de trezentos a quinhentos reais no ingresso (não levemos em conta o fato de que essa sessão é exclusiva para assinantes do jornal e ouvintes da rádio que ganharam os ingressos). Você está sentindo certa importância no meio daquelas pessoas bem vestidas. Vestiu sua melhor camisa combinando com a sua melhor calça, calçou o seu melhor sapato com a sua melhor meia e a melhor cueca e assim por diante. Os violinos, acompanhados pelos violoncelos e contrabaixos, entoam uma melodia bastante inebriante. A percussão suave dá ao sonoro movimento uma sensação de batimentos cardíacos bastante desacelerados. Ao fundo, uma soprano entoa uma nota aguda em ré sustenido, que mais parece um apito do trem bem distante. Aquele apito que se confunde com algum som do inconsciente, que te leva diretamente para um sono profundo. E de repente, você descobre que está dormindo, afundado na cadeira semi confortável do teatro municipal, com o pescoço pendendo para o lado esquerdo, quase babando. E se estivesse acordado, você descobriria que os outros setecentos e tantos espectadores encontram-se na mesma situação, de sono profundo. Ao som da música suave e embalante, você vai longe nos sonhos mais esquisitos. Você está na corte de Luis XV, ao lado de nobres com perucas brancas e perfume francês. Quem está regendo a orquestra é ninguém menos que Mozart. O sr. Stradivarius comanda o côro de violinos e a madame Callas canta lindamente o seu mais agudo tom. De repente, BLANBLAN, um rompante de som estrepitante com o auxílio da percussão invade a sala e você acorda de seu sonho esquisito. As pessoas na platéia do Teatro Municipal olham umas para as outras, tentando disfarçar o recente susto, limpando a baba do canto da boca, massageando o pescoço e se ajeitando na cadeira. Um susto musical. Uma contradição sonora. Um paradoxo melódico e percussivo. Uma surpresa sinfônica. Sabia, aliás, que esse recurso era bastante utilizado para manter os nobres da corte acordados nas apresentações de ópera e música clássica? No teatro é a mesma coisa. Muitas vezes o espectador dorme na platéia e então é preciso que algo aconteça para que ele acorde. Um grito da atriz ou um cutucão da namorada ou o barulho da pipoca sendo mastigada ou o telefone celular tocando no seu bolso. Tudo isso não passa de uma grande surpresa.

NADA EM VÃO SÃO AS PALAVRAS BEM DITAS – CRÍTICA AO ESPETÁCULO EM VÃO, NO VÃO OU VÃO DE IR MESMO

NADA EM VÃO SÃO AS PALAVRAS BEM DITAS – CRÍTICA AO ESPETÁCULO EM VÃO, NO VÃO OU VÃO DE IR MESMO
Eporbemditasentendassebemditassejamtodasaspalavrasquedisseremasmeninasdogrupobemditosejaamarcellaeatathysobadireçãodamonicamontenegro.
Alguém já parou para imaginar a força que a palavra tem? E quando Deus criou o mundo com a força da palavra, quem duvidou da força que a palavra tinha? Pode-se dizer que a palavra tem o poder presentificador, transformador, enternecedor, etc... As camadas expressivas das palavras... aí está o ponto crucial do exercício / espetáculo das meninas. Imagens criadas pela palavra, onde cenários e roupas brancas e chuvas de palavras caídas do céu e uma gangorra são meros coadjuvantes da potencialidade que a palavra tem. A palavra que ganha contorno, forma embelezadora diante da técnica excessivamente apurada do trabalho da Mônica, excessivamente realizado pela tathy e pela marcella, aquelas duas belezinhas, delícias de se ver e se ouvir. Às vezes, é bom fechar os ouvidos e embarcar nas imagens criadas pelas palavras que, fazendo juz à ambição do grupo, são muito bem ditas. Até demais. Em alguns momentos, talvez a técnica do bem dizer ganha mais importância que as próprias imagens que os textos sugerem. Visto de um ponto de vista experimental, torna-se bastante interessante o modo como as meninas conduzem a palavra desde o seu diafragma, reverberando pela coluna, dando voltas pelas escápulas, mandíbulas, têmporas, fazendo um bate e volta na testa e saindo pela garganta de forma natural e bela. Contudo, em que pese a necessidade de estabelecer um diálogo coeso com a sua matriz, os movimentos técnicos podem ser deixados de lado, por alguns instantes, para que a beleza e a alegria e o humor dos textos venham à tona. E, mais do que isso, ver como esses textos permeiam as vivências e experiências das meninas, de modo a transformá-las, aí sim, será transformador e o público será transformado com as bem ditas palavras.

NOEL - O POETA DA VILA (CRÍTICA)

NOEL – O POETA DA VILA
Como são bonitas e encantadoras as mulheres e suas vozes, hein? O Noel devia ser um homem de sorte, de ouvidos de sorte. Nada surpreendente, levando-se em conta que Noel escrevia para elas, pensava nelas, chorava e cantava por elas. Aqui, mais uma vez, temos notícia da elevadíssima inspiração das musas, que tantas vezes prestaram aos poetas um apoio incondicional, incontrolável, invariável e inapelável.
Cada detalhe tem o dedo de seu diretor, o Dagoberto Feliz. A estrutura cabarística, amparada pela iluminação quase escura e os belíssimos figurinos em cores fortes de vermelho, traz para a relação ‘palco-platéia’ uma caliência própria da sedução que os atores imprimem nos expectadores. Quem não se sentiu seduzido por aquelas lindíssimas mulheres loiras com vestido decotado? Uma loucura, praticamente. Não se pode dizer o mesmo, contudo, da figura central do enredo. O próprio poeta, o Noel, usa um chapéu branco de abas largas, que nos impede de ver seus olhos, a fonte essencial de sua poesia. Aliás, também não se pode dizer que o Noel não tenha uma voz frágil e desafinada, e que a sua corcunda seja bastante protuberante. Essa tuberculose realmente era um problema, principalmente nas primeiras décadas do século passado, o XX.
A dramaturgia, costurada pelas próprias letras e músicas do célebre poeta que dá nome ao espetáculo, descobre, ao som das melodias por vezes suaves ou pesadas, uma narrativa, ainda que não linear, muito potente. Em nenhum momento, a estrutura do espetáculo se desprende das necessidades da narrativa. A rádio e o duelo de samba são um ponto forte dessa ligação entre um e outro. Outro ponto fortíssimo é a sintonia finíssima dos musícos com os atores/cantores, numa relação belíssima de se ver, num jogo bem cadenciado.
Seu Molina

UDI GRUDI – A DEVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Quem assistiu ao espetáculo do circo-teatro Udi Grudi passou por experiências extra-terrenas, extra-corpóreas e extra-ordinárias, qual um expectador que fica grudado na tela do cinema ao assistir ao clássico ‘A história do mundo’, de Mel Brooks.
Desde o início até o fim, a narrativa se prende em elementos bastante consistentes. As invenções e descobertas tecnológicas, cada uma a seu tempo, dão conta da linearidade quase fidedigna da própria criação divina. Ora, guardadas as devidas diferenças e proporções, não se pode dizer que os detelhes sejam negligenciados, mesmo porque, se assim não fosse, a uma hora de espetáculo seria suficiente para a criação dos seres unicelulares, somente. Mas não é isso que se vê no bem construído espetáculo dos meninos. Na tragetória da narrativa, os seres são criados, as coisas são criadas, as técnicas são criadas, as tecnologias são criadas, assim como as relações. Tudo é criação. A panela que solta fumaça que vira uma locomotiva; a roda misturada com a água que vira um rodamoinho, enfim... É muito legal. É radical. E é engraçado. Uhu! Vale a pena e o ingresso.

Seu Molina

MOCKINHPÓ - O PARAFUSO ENFERRUJADO DOS TEMPOS MODERNOS

Por mais ou menos remota e plausível que seja a referência à máquina industrial criada pelo ilustre vagabundo Charlie em Tempos Modernos, no meio da qual se perde em devaneios e inconveniências, não se pode jamais deixar de remetê-la à situação de Mockinpó, um sujeito que é levado pelas sandices legislativas, interpretativas e disfarçatórias, às últimas conseqüências para então, na medida de sua incapacidade perceptiva, elaborativa e executória, legitimar-se como um undergroud subterrânio da supervaloração sócio-econômica mundial.
Em outras e parcas palavras, Mockinpó é um sujeito cidadão fodido, por mais grosseiro que possa parecer o termo.
De sandices falatórias, no entanto, já nos basta. Havemos de nos introduzir à real instrução dessa razão.
O pessoal da EAD está em temporada com o espetáculo homônimo da peça de Peter Weiss, Mockinpöff, guardadas as devidas diferenças lingíüsticas. É porque a tradução brasileira jamais poderá ser efetivamente fiel ao original alemão, sob o ponto de vista dos aspectos formais da tradução, por óbvio. Mas, contrariando a inversibilidade do termo, a emenda poderá sair, sim, à moda do soneto. Desconsiderando-se a supra veritá da expressão: ‘ tradução é traição’, mesmo porque não nos importamos com isso, falemos do que nos interessa.
A montagem dirigida pela Claudia Shapira, e que juntou uma galera muito legal e etcetera e tal, vai além da potência quase sensivelmente panfletária do texto. A radicalidade dos elementos plásticos, aliados à essência perturbadora de todas as suas referências, na maioria imagéticas e sonoras, permite subverter geometricamente as potências caracterizadoras de sua própria densidade esquelética. Com isso, quero dizer que a espacialidade ganha uma amplitude que estrapola os limites de relação palco-platéia e nos leva – a nós, espectadores – a uma dimensão que transborda sentido em forma de poesia.
O figurino é maneiríssimo. Adorei. E o samba e tal... Adoro samba. É realmente radical. A mesa verde dos políticos é um ponto forte. Uhu!
O jogo cênico estabece os parâmetros de seu campo. Os limites definidos permeiam a relação coesa e precisa dos atores para consigo mesmos. Uns corpos lindos e outras vozes muito lindas e surpreendentes. Belíssimo espetáculo!

Seu Molina

INVADIRAM A CHECHÊNIA - UMA CRÔNICA!

Quem não poderia lembrar que, há uns pares de anos, no começo da década, lançou-se mão de uma piadinha bem singela e infâme, cuja temática envolvia aquela região separatista da Rússia, a Chechênia? “Invadiram a Chechênia”, diziam os fervorosos piadistas machistas, provavelmente, numa mesa de bar, falando sobre mulheres, aos goles de chop ou cachaça ou pinga. Certo é que, se com vodka estivessem inebriados os ditos piadistas machistas, a piada ganharia um tom a mais de veracidade. Todavia, em que pese a equivalência etílica à geografia mapográfica do conflito, não se pode aludir aos próprios russos uma piada dessa natureza. Primeiro, porque o trocadilho não faria sentido algum. Segundo, porque pimenta no cú dos outros é refresco. Ora, um russo não acharia graça nenhuma nessa piada. Quanto mais um checheno. Para quem não está exatamente a par das notícias que recentemente deram conta dos conflitos entre russos e chechenos, segue um breve resumo do que se passa. A Chechênia é uma região do cáucaso, ao norte da Rússia, que pleiteia a sua instauração como Estado independente. Desde o período do domínio soviético, os Chechenos buascam a sua autonomia política, econômica, social, religiosa... Alguns anos atrás terroristas chechenos invadiram uma igreja com centenas de fiéis dentro vários e vários morreram. Noutra época, invadiram uma escola com centenas de alunos dentro. Vários e vários morreram. Agora, as viúvas de negro entraram no metrô de Moscou com cintos de tnt e se explodiram, levando consigo dezenas de pessoas. Os moscovitas estão super preocupados. O presidente Medvedev já soltou os cachorros. Acho que eles se chamam Boris, Igor, sei lá. O premiê Vladimir Putin disse que a Rússia irá destruir os responsáveis pelos atentados terroristas. Destruir? Que palavra forte. Acho que o Putin está exputindo de raiva. Desculpem o trocadilho. Onde isso vai parar?
Seu Molina
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ERVILHAS

Havia, certa vez, uma comunidade de ervilhas verdes, na sua maioria. Mas disso falemos mais tarde. Todas elas viviam harmoniosamente, na medida do possível, e do impossível também. Eram por cerca de seiscentas e vinte ervilhas que dividiam um espaço de pouco mais de setecentos centímetros cúbicos. Levando-se em conta que cada ervilha tinha, em média, um centímetro cúbico, umas mais e outras menos, e que entre elas transitava uma água da qual falaremos logo mais, cada ervilha ocupava quase o seu próprio tamanho. Ou seja, quase não podiam se mexer, a não ser quando a água as empurrava para rumos relativamente desconhecidos. Guardadas as devidas proporções, era como se na cidade de São Paulo houvesse quinze milhões de caixões e que cada um deles fosse ocupado por um habitante, de modo que não pudessem se mover, respirar ou comunicar-se entre si. E que esses caixões estivessem boiando num alagamento sem fim. No caso das ervilhas, é sabido que essas não tem pulmões e, por tal razão, não precisam de ar puro. Fato que, por si só, alivia para o lado das bolinhas verdes quando dizemos que as mesmas não podiam respirar. Voltemos à água. Era uma água que vivia lá desde os primórdios daquela comunidade. Fazendo uma retrospectiva de sua vida passada, as ervilhas não se lembram de terem convivido sem a presença daquela água, que sempre se marcou pela sua presença forte e incontestável. A água era de um verde bastante característico, impregnada da essência das próprias ervilhas, embebida da vitalidade e sabor, cor e cheiro das mesmas. A água, naquela comunidade, era onipresente. Estava em todo e qualquer lugar que não fosse ocupado por uma ervilha. Ela tinha a função de evitar toda sorte de desentendimentos entre as habitantes daquele sítio, que era muito pouco arejado, diga-se de passagem. Aliás, não era arejado – não tinha ar, posto que já foi dito que naquele espaço eram ervilhas ou água – e também era muito pouco iluminado, uma vez que o sol não conseguia, ou pelo menos nunca conseguiu até aquele dia, alcançar as redondezas habitadas pelas ervilhas. Levando-se em consideração, mais uma vez, que as ervilhas não têm olhos para enxergar, essa escuridão também não chegava a ser um grande problema. Por outro lado, ainda que a luz e o calor do sol não se presentificassem diante daqueles seres minúsculos, é certo dizer que lá dentro era bastante quentinho. A água mantinha uma média de temperatura de vinte e oito graus, o que trazia uma sensação de conforto para as ervilhas. Mas essa sensação de conforto era apenas aparente, pois, apesar de sua serenidade e calma, a água comandava com mãos de ferro toda aquela região. Cada ervilha tinha o seu próprio espaço e não podiam transitar fora dele. Havia a região nobre da comunidade, onde as maiores ervilhas, mas a minoria delas, tinham o direito de sitiar. Ou seja, apenas vinte por cento da totalidade das ervilhas ocupavam a metade inteira de cima da lata – sim, é uma latinha de ervilha, cuja marca é desnecessário mencionar. O restante das ervilhas, de cor não tão verde, algumas amareladas, outras opacas, tinham a metade de baixo da lata para ocupar, que era bem menos iluminada e arejada, se é que se pode considerar arejado algum ponto daquele lugar. Enfim, podemos dizer que a parte de baixo era infinitamente menos aconchegante e confortável. Todas as ervilhas que buscavam uma certa ascensão, ou seja, que tentavam ocupar, ilegalmente, a parte de cima e viver a vida das ervilhas grandes, verdes e bem afortunadas, eram severamente repreendidas pela água, que os levava para o fundo da latinha, e lá ficavam até que outra ervilha recebesse o mesmo castigo e fosse para o fundo. Então a presidiária anterior subia um degrau na escala hierárquica. Em aspectos gerais, é óbvio dizer que a comunidade das ervilhas não era tão harmoniosa como foi dito no início dessa narrativa. Ao longo de toda a eternidade daquela comunidade, se instaurou uma classificação por classes. Ervilhas fortes, verdes, coradas, robustas, saborosas, apetitosas que tinham todas as primazias providas pela água, e as demais, que eram consideradas ‘o resto’, descartadas de um ideário aprazível para denominar-se uma ervilha de boas maneiras. Essas miseráveis eram, na sua quase totalidade, amarelas, pequenas e defeituosas.
Certo dia, daqueles em que parece que tudo ocorrerá dentro da normalidade, com poucos casos de repreensão ou de ervilhas preconceituosas que chateiam as outras, devido à sua classe ou por serem pequenas, aconteceu algo que ninguém poderia prever, posto que nunca havia acontecido. Ocorreu um fato inédito, um fato sem precedentes na história daquela comunidade, que traria mudanças radicais para a vida daquelas ervilhas. É preciso dizer, também, embora se constate com o narrar dos acontecimentos, que aquele episódio seria definitivo para o término da própria comunidade. Mas, o mais curioso é que, ainda que as ervilhas, mesmo as mais sensitivas, para não dizer espertas e inteligentes, não soubessem exatamente quais seriam as conseqüências daquela fatídica ocorrência, todas elas uniram-se, buscaram um fortalecimento coletivo, em prol daquilo que mais tarde denominar-se-ia instinto de sobrevivência, de preservação da espécie. Por volta das doze horas daquele dia inédito, ouviu-se um barulho muito estranho de porta se abrindo. As ervilhas já tinham ouvido aquele barulho antes. Contudo, aquele barulho, isoladamente, não era muito significativo. Tão logo aquele barulho cessou, houve uma força externa inexplicável que balançou toda a estrutura da comunidade. Não só todas as ervilhas mas também a água, perderam o seu auto-controle. Começaram a ser jogadas umas contra as outras, contra as paredes de alumínio, contra o teto e, ao mesmo tempo contra o chão. Nunca havia se dado tal calamidade, em tais proporções. Essa agitação durou, na contagem de um relógio humano, mais ou menos um minuto. Quando se deu a calmaria, a qual, mais tarde, descobriu-se ser somente passageira, havia ervilha grande e saborosa no fundo da lata e outras que estavam literalmente esmagadas. Por outro lado também havia ervilhas feias e foscas na parte da cima, boiando sobre uma água completamente desnorteada e entontecida, para a qual a divisão hierarquicamente estabelecida, não só já havia a muito se perdido, mas também não tinha mais nenhum sentido, obra da confusão e do transtorno havidos. De repente, veio barulho perfurante lá de cima, como se alguma arma tivesse lhe feito um furo. Então, começou a entrar uma claridade muito intensa, muito brilhante, que vinha de um pequeno ponto da extremidade superior da latinha. Inacreditavelmente, as ervilhas sentiam que a mesma estava sendo virada. O teto foi se dirigindo para baixo e o chão foi para cima. Por conta da gravidade, todas as ervilhas foram imediatamente pressionadas contra o teto, e isso fazia um barulho muito diferente, fora do normal. Parecia que aquele teto de alumínio, a qualquer momento, iria ceder sob os pés das assustadas ervilhas.
Logo em seguida, quando se achava que tudo de impossível já tinha acontecido, surpreendentemente, a água, lentamente, começou a escorregar pelo buraco que havia sido feito na latinha. As ervilhas começaram a entrar num estado de choque e desespero completos. Era inimaginável que elas pudessem existir sem aquela água ao redor. É como se, numa visão mais romântica da situação, disséssemos que um caderno não pode viver sem as suas folhas ou que as calças não podem viver sem as pernas. A partir daquele momento, as ervilhas começaram a rememorar todo o tempo em que passaram juntos com a água naquela lata. Desde os maus agouros até os dias de pura felicidade e alegria foram objeto de lembrança daqueles seres amedrontados. Enfim, a água foi escorregando e, cada vez menos ervilhas podiam apreciar um último contato com a mesma, sentindo nela o seu próprio cheiro e sabor. Quando toda a água terminou de esvair-se por entre as ervilhas tristes e molhadas, pairou um sentimento muito estranho, quase a retratar a sensação de perda de um parente muito próximo. As ervilhas simplesmente não sabiam o que fazer. Ficaram paradas ali, sem se mexer, mesmo porque não conseguiam, posto que estavam presas umas sobre as outras. Era a água quem possibilitava a locomoção delas. De repente, novamente a surpreender o espírito pouco empreendedor e aventureiro das ervilhas, ouviu-se um barulho ensurdecedor. Por cima delas, o teto estava sendo rasgado nas suas bordas e a intensidade de luz e brilho aumentou infinitamente. Segundos depois a comunidade das ervilhas já estava sem teto. Melhor seria se elas conseguissem, a tempo, se organizar para formar um movimento contra tal atitude tirânica, perpetrada por não se sabe quem. Mas não conseguiram. Em questão de mais alguns segundos, a latinha foi virada e as ervilhas começaram a cair numa grande travessa. Assim que caíram e sentiram aquela travessa fria e espelhada embaixo delas, já sabiam qual seria o seu destino. Ao lado de alguns tomates, outros pepinos, milhos, ovos, palmitos e cebolas, as ervilhas tomaram o seu lugar na grande salada que seria ingerida logo mais, na mesa de almoço de alguma família saudável.

Fui numa festa supimpa.

Fui numa festa, esses dias, lá dos calouros da Escola de Arte Dramática. Uma festança, lá num hotel do centro da cidade. Cambridge. Primeiro, enfrentei uma confusão na fila. Uns bêbados e arruaceiros queriam entrar no lugar sei lá o quê e os seguranças impediram e tal. O Caco ta de prova. Mas aí, eu entrei. A moça da recepção é muito simpática. Não tenho meu nome na lista! E agora? Já sei. Vou usar o nome do Daniel, meu vizinho. Falei que eu era ele e entrei na festa. Atravesso a cortininha. Um ambiente escuro iluminado, várias pessoas. Alguns conhecidos. Encontrei o Vitor, encontrei a Tatiana, encontrei a Eliane, o Caco, o Davizinho, o Fabiano, uma mulher super charmosa que parecia muito com o Tayrone, uma travecona sem sal, a Dani, e mó galera. O Davizinho me disse: E aí Seu Molina, beleza? Você viu a Madame? Eu não, aonde? Ali! Segui com o olhar o dedo da pontaria até um pedestal onde ficavam as pick-ups. Uma escadinha à esquerda. Um palco à direita. Muitas luzes e fumaças. Atrás da sombra de névoas, ao som de uma música muito louca, ninguém menos ninguém mais que Madame Elizabeth the Queen! A DJ do negócio. Achei radical. Excelente. Eu não sabia. Quem diria? Madame de DJ. Adoro. Fui falar com ela. Muita excitação. Uau! A porta estava fechada. Bati uma vez. Bati outra vez. Estava um barulhão. Ninguém ouvia. Até que veio uma moça que estava ajudando a Madame, acho que ela é do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos não tenho certeza, abriu a porta e me deixou entrar, depois que eu me apresentei Olá, gostaria de falar com a Madame. Parabéns à turma 62 da EAD, espero que vocês tenham muito sucesso e alegrias e paz e saúde e escuta e harmonia e simpatia e perseverança e verossimilhança e tudo de bom.
Seu Molina
seumolina@zipmail.com.br
dgseumolina@gmail.com
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Pra Ler - uma nova e antiga possibilidade!


Olá amigos, como vão? Há tempos que estou ausente da tecnologia virtual digital internet comunicativa. Também, não era para menos. Não consegui parar em frente ao computador nestes últimos dois meses, três semanas, quatro dias, cinco horas, seis minutos e sete segundos, oito, nove. Mas agora basta. Estou aqui de volta, depois de longa aventura pelas vias superfaturadas de adrenalina e fortes emoções. Num dia destes, domingo ensolarado nascido depois de contínuos dias de chuva escabrosa, as árvores faziam sombra verde sobre a arena no Parque da Água Branca. Um evento enorme que demandou a participação de mais do que meia dúzia de gatos pingados. E por falar em pingado, naquela manhã eu tomei o meu copo de café com leite e duas gotinhas de adoçante, pra variar. Segui para uma tenda toda colorida de azul e verde e vermelho e amarelo e roxo e mais outras cores. Brancas eram as mais de mil cadeiras de plástico dispostas diante do palco com mais de um metro e cinquenta e nove centímetros de altura, dez metros de largura e cinco de fundura. Por trás, desciam uns degraus direto para o camarim mambembe improvisado que o pessoal da organização preparou, com algumas ameixas pretas, uvas verdes e águas minerais. Café e chá e bolachinhas. Lá encontrei o Rubi, a menina da novela, a abóbora saltitante e os demais integrantes da banda Mirim, cujos prenomes e sobrenomes ou sequer apelidos eu me lembro. Desmemorialidades à parte, o que devo dizer, realmente, é que a manhã daquele domingo foi especial. Vários encontros superinteressantes, muitas pessoas, muita alegria, muita música, muita palhaçada. Para quem não sabe, foi a inauguração do projeto Pra Ler, um programa da Secretaria de Cultura do Estado de incentivo à leitura nos centros periféricos de São Paulo. Você sabia que o brasileiro, em média, lê dois livros por ano? É muito pouco, não é verdade? Então, imagina você. Se o fulano lê uns três livros por mês, quantos beltranos deixarão de ler sequer um livro por toda a vida? Isso não é brincadeira, não. Antes fosse. Agora, deixando de lado um pouco essa matemática radical para a qual a média é o resultado da pesquisa do ibope, o fato é que as pessoas precisam ler mais. E esse projeto tem este intuito desde a sua concepção. E por isso é importantíssimo e deve ser difundido. A leitura é o futuro das futuras gerações.
Seu Molina
seumolina@zipmail.com.br
www.seumolina.blogspot.com

O ano novo das tragédias!


Eu acho que sou um otimista. Realmente acredito que o ano será ótimo. Para todos. É como uma metáfora utópica das alegorias transviadas.
Contudo, aos pessimistas, por não conseguir manifestar conclusões próprias, imbuo-me das palavras de José Saramago, que, num rompante de sabedoria igual àqueles do rótulo interior do sonho de valsa, escreveu, em algum lugar do ensaio sobre a cegueira, se não me engano, o seguinte: "(...)É como a vida, minha filha, começa não se sabe pra quê, e termina não se sabe por quê."
Lembro, com um pouco de pena, confesso, das vítimas do terremoto que devastou um país inteiro, Haiti. Que horror. Tragédia pior nem a de Antígona. Ou uma qualquer de Eurípides, ou Ésquilo ou Agamêmnon. Coisa brava, muitos mortos. Bem mais que os gregos antigos. Cinquenta mil mortos. Isso que é tragédia. Um minuto de silêncio. Me despeço. Seu Molina.