POLICARPO QUARESMA - crítica

POLICARPO QUARESMA – crítica
A partir da obra literária de Lima Barreto, Antunes Filho coloca em cena a realidade com suas máscaras desveladas. A ironia presente na trilha sonora, por exemplo, nos leva a uma sensação de delírio plena, permeada pelo ufanismo engraçadíssimo de Policarpo Quaresma, sua figura principal. O excêntrico e protuberante Policarpo, vivido por Lee Thalor, nos faz imaginar no mínimo bizarra toda a estrutura político-social que o envolve. Os devidos paralelos e suaves comparações nos remete a uma dimensão analítica, conquanto as diferenças se desdobram na estética extremamente teatral, dirigida por Antunes. Os movimentos coreográficos bem finos, ordenados e sincronizados pelo grupo de atores jovens do Macunaíma, são bem razoáveis. Talvez, contudo, poder-se-ia considerar a possibilidade de abrir mão de poucos momentos repetitivos, excessivos. Um belo espetáculo. Bela atuação de Lee Thalor. Em cartaz no SESC Consolação.
Seu Molina

FATZERBRAS – um doideira performática pós dramática velociráptica

Brasileiros e Alemães erradicados na multi simultânea realidade caótica. Ainda mais quando se fala no Bertolt Brecht. Do texto inacabado de sua autoria, “O declínio do egoísta Johann Fatzer”, surge uma apoteótica demonstração das rupturas desfragmentadas de sentido linear. O caráter performático das pedras fundamentais nos trazem à luz uma gama perpendicular de sentido - considerando-se como elementar o próprio distanciamento brechtiano – sedimentado nas breves e impactantes cores e formas das imagens de vídeo-clipe., embora de tal recurso não se utilizaram para a encenação, que tem residência temporária no SESC Pompéia . As multi simultâneas imagens bombardeiam de potencialidade a própria estrutura do espaço, principalmente. A síntese do texto, que de inacabado, possibilitou uma construção dramatúrgica e interpretativa. É chocante. E radical.
Seu Molina

RODÍZIO, EM POUCAS PALAVRAS!

RODÍZIO

Rodízio de carne. Rodízio de sushi. Rodízio de carros. Essa questão do horário é algo que...
Uma perturbação culmina na urbanização.
Precisamente, quando as cinco badaladas vespertinas badalarem no coração da terra da garoa, a xenoplacafobia transpirará por todos os poros, inebriando, qual xarope expectorante pulverizado, as ojerizas que os robôs de capacetes amarelinhos infeccionariam, não fosse a metáfora sustentável.
A saída de emergência para cruzar o rio a tempo antes que a câmera flagre o seu número. Ou o robô amarelinho que tem um apito e uma caneta. Ou o GPS. Controle total. Tensão absoluta. Crise. Faltam dez minutos para as cinco badaladas soarem e a distância a ser percorrida é longa. Uma maré de luzes de freios ilumina o horizonte vermelho. Pé no acelerador. Vamos lá. Sai da frente, ô barbeiro!
E faltam sete minutos para a síncope numerológica voltar-se contra si num movimento de auto-acusação, qual uma força magnética entre a lente e a placa.
O semáforo ao longe fica vermelho.
Falta um minuto. Pé no acelerador, vamos lá, sai da frente, ô barbeiro. O ponteiro aproxima-se do marcador imponente ao norte. E o ponteiro, num movimento brusco e repetitivo, vai cortando o vento e fazendo vrum, vrum, vrum, ultrapassa a barreira limítrofe entre o bom senso e a intolerância e dispara o alarme sensorial da perturbação de que falava há pouco.
Cinco badaladas ecoam. O olho procura o sentido. A catarse se inverte numa manifestação de quase pânico, de tal forma que nem se percebera que já cruzara o rio.