MOCKINHPÓ - O PARAFUSO ENFERRUJADO DOS TEMPOS MODERNOS

Por mais ou menos remota e plausível que seja a referência à máquina industrial criada pelo ilustre vagabundo Charlie em Tempos Modernos, no meio da qual se perde em devaneios e inconveniências, não se pode jamais deixar de remetê-la à situação de Mockinpó, um sujeito que é levado pelas sandices legislativas, interpretativas e disfarçatórias, às últimas conseqüências para então, na medida de sua incapacidade perceptiva, elaborativa e executória, legitimar-se como um undergroud subterrânio da supervaloração sócio-econômica mundial.
Em outras e parcas palavras, Mockinpó é um sujeito cidadão fodido, por mais grosseiro que possa parecer o termo.
De sandices falatórias, no entanto, já nos basta. Havemos de nos introduzir à real instrução dessa razão.
O pessoal da EAD está em temporada com o espetáculo homônimo da peça de Peter Weiss, Mockinpöff, guardadas as devidas diferenças lingíüsticas. É porque a tradução brasileira jamais poderá ser efetivamente fiel ao original alemão, sob o ponto de vista dos aspectos formais da tradução, por óbvio. Mas, contrariando a inversibilidade do termo, a emenda poderá sair, sim, à moda do soneto. Desconsiderando-se a supra veritá da expressão: ‘ tradução é traição’, mesmo porque não nos importamos com isso, falemos do que nos interessa.
A montagem dirigida pela Claudia Shapira, e que juntou uma galera muito legal e etcetera e tal, vai além da potência quase sensivelmente panfletária do texto. A radicalidade dos elementos plásticos, aliados à essência perturbadora de todas as suas referências, na maioria imagéticas e sonoras, permite subverter geometricamente as potências caracterizadoras de sua própria densidade esquelética. Com isso, quero dizer que a espacialidade ganha uma amplitude que estrapola os limites de relação palco-platéia e nos leva – a nós, espectadores – a uma dimensão que transborda sentido em forma de poesia.
O figurino é maneiríssimo. Adorei. E o samba e tal... Adoro samba. É realmente radical. A mesa verde dos políticos é um ponto forte. Uhu!
O jogo cênico estabece os parâmetros de seu campo. Os limites definidos permeiam a relação coesa e precisa dos atores para consigo mesmos. Uns corpos lindos e outras vozes muito lindas e surpreendentes. Belíssimo espetáculo!

Seu Molina

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