UMA CITAÇÃO, BREVE, DE ÁLVARO DE CAMPOS, BEM LEVE, PARA REFLEXÃO!!!


“(...) Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso?
Mas penso ser tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos”.

ENSAIO SOBRE A IRRITAÇÃO!


Nessa semana passada, tivemos perante os olhos brasileiros o maior exemplo da confluência celular dimensional, que também pode ser chamada de ‘irritação’.
A irritação irrisória da irresponsabilidade irrefletida na irritabilidade irritante é evidente nesse cenário global em que vivemos.
O goleiro do Palmeiras irritou-se com o time por causa do jogo. O Wanderlei Luxemburgo irritou-se com o Marcos por causa da declaração. O Daniel irritou-se com o Eduardo por causa do controle remoto.
A irritação é condição sine qua non da existência global de esfera esfumaçada, num momento em que as eventualidades da pós-modernidade não dão conta de si mesmas.
O guarda irritou-se com o vagabundo. O inspetor de polícia irritou-se com o inspetor, E assim vai até chegar no presidente dos Estados Unidos da América.*
É uma cadeia de plena irritação pulsante e vibrante na polaridade negativa de elétrons radioativos. A irritação micro celular, no limite, alcança irritação estratosférica da sociedade humana.
De outra parte, a relação histriônica da supérflua irreverência frenética persiste em chamar de irritante a complexa participação sintética de canais sensoriais responsáveis pelo sentido de irritação.
Ora, que belo exemplo esse do futebol, em que todo estado de coisas envolve um pleno e alegórico e massificante sentimento de paixão. A paixão, por sua vez, é o invólucro perfeito da intensidade subterrânea e menstrual; a irritação, per si!
Como questionamento pseudo-conclusivo, deixo à baila a problemática substantiva das adjetivações adverbiais e sintáticas, bem como dos fonemas assindéticos verbais, acerca da palavra que carrega em si a responsabilidade de concluir-se. Irritação.

*O presidente dos Estados Unidos da América irritou-se com sua secretária de estado, que irritou-se com o ministro da guerra, que irritou-se com o ministro de defesa, que irritou-se com o diretor do FBI , que irritou-se com o chefe de polícia de Nova York.
Este, por sua vez, irritou-se com o patrocinador anônimo.
O dono da fábrica de armas irritou-se com o presidente do conselho, que irritou-se com o vice presidente geral. Este irritou-se com o vice presidente de finanças, que irritou-se com o diretor de sistemas, que irritou-se com o gerente geral de logística, que irritou-se com o coordenador de frotas, que irritou-se com o supervisor dos engenheiros mecatrônicos, que irritou-se com o engenheiro com doutorado em balística, que irritou-se com o estagiário estudante do MIT , que irritou-se com a sua namorada.
A namorada irritou-se com o irmão, que irritou-se com a mãe, que irritou-se com o pai, que irritou-se com a sogra, que irritou-se com a filha, que irritou-se com a empresa da qual comprou mini berimbaus para dar de brinde na festa de seu casamento com o estagiário.
A empresa que vende os mini berimbaus irritou-se com o administrador do site que efetuou a venda. Um brasileiro, obviamente.
Pereira da Silva irritou-se com o síndico do prédio onde mora, que irritou-se com o zelador, que irritou-se com o porteiro, que irritou-se com o faxineiro, que irritou-se com o morador que jogou papel de bala no chão do elevador.
Este irritou-se com o caixa do banco, que irritou-se com o motorista do ônibus que não parou no ponto, que irritou-se com o motoboy, que irritou-se com a madame da Mercedes, que irritou-se com o manobrista do salão de beleza, que irritou-se com o menino que pede esmolas, que irritou-se com a madame da Mercedes, que irritou-se com a hostess do salão de beleza...
Na verdade, não interessa. Mas não se irrite.
PS: A publicação do texto não é imediata à laboração da escrita, nesse caso.