45 minutos, uma crítica - espetáculo de caco ciocler

Quarenta minutos. Esses são os únicos minutos, os intermináveis e derradeiros minutos pelos quais se nutre a esperança de acontecer o inacontecível. Quarenta e cinco tediosos e provocadores minutos de revelia a um esquema de exposição absoluta. Quarenta e cinco minutos em que o ator deve entreter o público, pois o público está lá para ser entretido, nada mais. Nada mais ultrajante para um ator do que ser o motivo da risada alheia. De pagar o mico, de bancar o ridículo.
Estou falando do espetáculo de Caco Ciocler, que encerrou sua temporada no Centro Cultural São Paulo. Um espetáculo simples, sem subterfúgios, um espetáculo que busca a essência do ser e estar em cena, fuga centrípeta da representação. Caco assume o risco de não entreter o público, muito embora entretenha-o de maneira sutil e delicada. O limiar entre a metáfora do discurso e o discurso em si caminha numa tênue e frágil linha de navalha. Qualquer inclinação pode colocar tudo a perder. A representação - cujo aliado maior é o nosso próprio ego – é a nossa mais poderosa arquiinimiga. Digo, a dos atores e atrizes. Devo dizer que Caco Ciocler se dá bem no equilibrismo da navalha. Consegue manter o equilíbrio. Escapa da representação. Talvez por isso – e essa é uma opinião pessoal - não empolgue o grande público, que espera ver um show do belo Caco Ciocler, galã, famoso e global ator, e talentoso. Ele realmente é de arrancar suspiros, mas isso não vem ao caso.
Quarenta minutos é um espetáculo desafiador, provocador, constrangedor. Um belíssimo exercício de ator, com sua simplicidade, sinceridade e verdade. Uma ótima dica para quem ainda não viu.

Seu Molina

Diário Baldio, crítica ao espetáculo!

Os factóides e ocorridos cosmonopolitas sobrevoam as camadas de urbanidades flagrantes em sua insegurança propiciada pelo desmembramento ilustre da democracia, como exemplo singelo mas não exaustivo de como lidar com as percepções básicas de civilidade.
Por outro mas convergente vértice, não se pode negar uma gigantesca transferência do foco institucionalista para a beleza de geometrias triangulares refletidas nas máscaras, tão bem construídas lá no Barracão.
O Esinho e o longilíneo Gabriel travestem, ou melhor, transportam, ou ainda, transferem suas figuras e qualidades ao molde corporal proposto, em favor da máscara. A Tiche dirige.
As contemporâneas sugestões para se compor dramaturgia se ambientam numa necessidade de imbuir-se de, incutir a si, preencher-se de muita vontade de entender o que se passa com as pessoas.
A direção é precisa e a presença cênica corporal dos atores mais ainda. O trabalho é belíssimo. Todos eles merecem uma salva de palmas.
‘Diário Baldio’ nasce de uma possibilidade e, acima de tudo, de uma necessidade de investigação do cotidiano, de transformá-lo em cena para, só então, transformá-la, a cena, em texto. Totalmente apropriado pelos atores, os dramaturgismos, em seus diversos níveis, suplantam, extrapolam a divergência neuropsicossomática das máscaras.
Trata-se de uma pesquisa belíssima desenvolvida na rua, em sala de aula, uma pesquisa de linguagem, métodos urbanitários, máscaras, etc.

A última história da turma 59.

‘O grande espetáculo’. Um bom mote para a última história, última expressão da extinta turma 59 da Escola de Arte Dramática. Turma que se desmantela. Turma que se dissolve. Turma que nasce de si mesma e se recria e se transforma e se repensa como coletivo atuante. É uma beleza de se ver. Essa experiência do coletivo, que vem sendo lapidada com muito empenho, se reflete na sombra luminosa de um outro tipo de experiência, estética, poética, sensorial. A turma 59 se vale de todas as suas qualidades para repensar sua própria trajetória existente no cerne da gestação escolar. Tal qual uma Fênix que renasce de suas próprias cinzas, a extinta turma 59 se renova, absorvendo sua vida pretérita dentro da escola em favor de uma longa jornada ao longo de uma estrada infinda, agora como grupo 59. Um coletivo feito por atores, por indivíduos, por seres humanos, que fazem dessa experiência e fizeram, desde o seu início, “um encontro saudável, alegre e feliz de jovens dispostos a viver a experiência da arte com toda a ingenuidade e inablilidade do mundo”. Compartilho aqui uma convergência simpática de opiniões. Creio que essa experiência, a verdadeira busca por preencher-se, em qualquer tempo ou espaço, em qualquer sentido, de energia e de conhecimento e de subjetividade e de humildade, impulsiona o indivíduo para a condição de artista. Por falar nisso, gostaria de tecer uma curta elucubração sobre a figura do velho palhaço e o que ela representa. O velho palhaço, seu fantasma, nos incita a não abandonar nossos anseios, mesmo que o anjo Ariel, o nosso belo e angelical anjo Ariel, esteja avariado e não consiga entregar a mensagem. Os nossos desejos mais sinceros, nossas crenças mais profundas, imergem das profundezas e se traduzem numa consciência muito coesa e transparente. Então, a comunicação será completa, eficiente. E isso é evidente a olhos espectadores pois, entre os olhos jogadores, a cumplicidade, o equilíbrio, a escuta estão presentes e plenamente preenchidas a todo o instante.
Um duplo discurso. Um discurso metafórico e metalingüístico. Quando se fala na trama teatral, da dramaturgia, no discurso do âmbito narrativo ficcional, na verdade se fala da própria condição do indivíduo pertencente ao grupo. Os paralelos estabelecidos entre o que se conta e o que se vive nos aparecem à vista com muita clareza e beleza. Aqueles que minimamente acompanharam a trajetória, as conquistas, as dificuldades dessa turma - o resultado estético poético do espetáculo, A última história, com a turma 59 da EAD, concepção de Tiche Viana e Marcelo Onofri – são embebidos num impactante lugar de acolhimento e singeleza. Seus efeitos são praticamente bastante reveladores da inabilidade com que o homem consegue controlar suas emoções, deixando de lado a luta do intelecto para encontrar sentido. E não só. Provoca um relaxamento buco maxilar que impele o desrosqueamento de não sei lá que ossos e a consequente queda do queixo, barbado ou não.
Vale dizer, com muita sinceridade - e também para acabarmos com isso que as palavras já vão longas – que, realmente, trata-se de um belíssimo espetáculo, emocionante, impactante, cheio de fibra e poesia. Desde a sua concepção, escolhas temáticas, abordagens estéticas, relações verdadeiramente autorais de cada um dos indivíduos do grupo, a exposição plena e severa,e tudo contribui para o sucesso que é A última história, espetáculo de formatura da turma 59 da EAD, já extinta e agora o grupo 59 recebe esse coletivo de artistas numa convergência de energias muito positivas e vibrantes. Faço votos que o grupo 59 encontre em seu mais novo caminho muita luz, amor, paz, paciência, perseverança, alegria e felicidade. E, desde já, me coloco, com muito orgulho e prazer, como parceiro investigativo nessa nova trajetória, na qual exercitaremos a nossa capacidade de sonhar.
Parabéns, Grupo 59.

Seu Molina

PANELA DE EXPRESSÃO ou a liberdade sincrônica

PANELA DE EXPRESSÃO ou a liberdade sincrônica.
Radioativos planejadores urbanos suscitam a capacidade estratosférica de estratificar da pedra fundamental os plânctons inflamáveis da abstração geométrica.
Desde que a caneta esferográfica derrubou rubra tinta ordenada por sobre céu azul nublado, transpuseram-se, automaticamente, em contrapartida à modalidade primordial, referências subordinadas à célebre xenofobia bélica da sociedade do país do futuro.
Os tesouros vislumbrados nas Ilhas Molucas, por exemplo, detém, supressivamente, as explorações pictóricas da essência satisfatória, no plano da alfarrábia alfabetização do algoz de Alberto Álvaro, ou de Al Capone.
Ridiculariza-se, no íntimo cerebral, a pulsação abrupta de terminações nervosas de oxigênio, sob as quais irradiam iluminadas cidades de luz culturalizadas.
E quando se fala na questão dos Habsburgos liliputianos, qual seria o resultado dessa mistura como síntese congruente? Qual teorema abominável, incalculável, inimaginável, insuperável.
Que horas são?
O xarope expectorante tem sua funcionalidade cadavérica nas medidas e proporções exatas da premissa básica que norteia a reverência arlequina do brasileiro ao monarca dom João sexto, por ocasião da vinda da família real lusitana ao Brasil.
Funcionalidade esta que permeia os códigos da navegação aérea em sua torre de comando.
A emblemática metáfora que lhe dá título justifica-se precisamente na dicotômica esquematização de egóicos suicídios planejados em suas custódias assintomáticas da síndrome do pânico. Se, por um lado, panela de pressão, de outro, panela de expressão. Ou então, para dar cabo do colóquio, liberdade sincrônica, por razões óbvias.

ENSAIO SOBRE A AUTO COMPENSAÇÃO DO UNIVERSO E A AÇÃO DO HOMEM

ENSAIO SOBRE A AUTO COMPENSAÇÃO DO UNIVERSO E A AÇÃO DO HOMEM

Tudo que sobe, há de descer. A física explica. Energia se renova e transforma. Se um pombo cruza o seu caminho, que há de ser? Um burro ou outro que não percebe? Qual ladeira trans americana universal. Falência múltipla dos auto controles da vitalidade cíclica. Validade virtual das duplicidades zoomórficas. Na camada pré-sal, tudo pode acontecer. A que custo? Natureza destroçada por palindrômicos maníacos e incongruentes. Radicalismos à parte, botemos na balança a conclusão ululante sobre o episódio noticiado dias atrás: nunca tantas baleias encalharam como nos dias de hoje em dia. Um dia a natureza selvagem será domesticada e encoleirada, autocompensada com artifícios sintéticos...esse assunto me irrita profundamente. A saída da caverna milenar é iluminada por uma placa luminosa ‘EXIT’. Como pode?

'Preto no Branco"

Preto no Branco
Esse pequeno conjunto de palavras dispostas nessa exata ordem sempre suscitou uma série de possibilidades interpretativas, nos mais variados sentidos. Quando uma pessoa tem absoluta certeza de algo, ela diz: - isso é preto no branco. E quando um retirante nordestino come feijão com arroz, é preto no branco. Claro, se supormos que o feijão está por cima do arroz e também se considerarmos que o feijão é preto e não carioquinha ou até mesmo feijão branco. Agora, se o retirante comer feijão e arroz com farinha, temos aí uma variação sobre o mesmo tema: branco no preto no branco. Essa variação também virá à tona numa outra possibilidade que logo mais se mostrará. Por ora, trata-se de uma variação da ordem dos gêneros alimentícios e proteicos. A farinhna, realmente, traz um sabor todo especial ao arroz e feijão, e se vier com uma pimentinha, então...hummm! Mas o que se denota da coloquialidade popular – é preto no branco – é uma translucida transparência transfigurativa da transcedentalidade transferencial. Ora, fugindo da categoria alimentícia destinada à verbalidade coloquial, podemos dizer que a expressão preto no branco também pode explicitar uma relação amorosa. O preto no branco. Uma relação interracial, homossexual. Se considerarmos, por outro lado, a ausência do caráter gramatical que configura o grau do sujeito, a relação pode ser heterossexual também. Isso porque quando se fala preto, entende-se preto ou preta. Por sua vez, quando mencionarmos branco, entender-se-á branco ou branca. Dessa variação terminológica, sem alguma preocupação com a conjugação gramatical, temos várias opções de relações amorosas. Preto com branco, preto com branca, preta com branco, preta com branca e vice e versa. Uma mistureba daquelas. Lembram-se que falamos, lá atrás, de uma possibilidade de variação: branco no preto no branco? É para os casos de relação a três, ou mais conhecido no francês como menage a trois. E porque não dizer preta com preto ou branca com branco e vice e versa? Mas aí fugiríamos radicalmente do tema desta crônica. Estamos aqui a falar sobre as variações da expressão preto no branco e de nada mais. Outra possibilidade de variação da expressão é exatamente daquela que viemos falar aqui. Quando um preto sai na porrada com um branco e eles se atracam e saem rolando pelo chão, um batendo no outro e, no momento da fotografia, o preto está pressionando o branco contra o chão, asfixiando-o? É preto no branco. Estou falando nisso porque li, dias desses, no jornal, que, na África do Sul, um preto matou um branco porque esse branco tinha criado um grupo responsável por matar os pretos... Quem já conhece essa história? Exatamente. A África do Sul não está livre da segregação racial. Muito pelo contrário. Será que a copa do mundo de futebol está ameaçada? Que será do Robinho? Ou do Ronaldinho gaúcho? Ou do Michel Rooney, aquele branquelo da seleção inglesa? E nem se pode lançar à mão aquele famoso jargão popular: ‘eles que são brancos que se entendam’ ou vice e versa. Para o Brasil ganhar a copa, o Kaká tem que se entender com o Robinho e assim por diante. Abaixo a segregação racial.
Seu Molina