UM CONTO INFANTIL UM

Uma hipotenusa. Um logradouro situado nalgum lugar longínquo, remoto no tempo e perdido no espaço. Céu refletido no espelho do rio que corre ao lado, cruza pela tangente e segue ao leste, levando vida ribeirinha margens a baixo. Perfume doce e de roxo molhado sobem pelo nariz e tocam o cerebelo, fazendo a boca abrir em sorriso e os olhos fecharem suavemente. O verde com amarelo reluz pelo ar rarefeito e puro. Pius. Água batendo em água constante e abundante. Terra molhada com cheiro de grama e árvore chovida.
Vista embaçada. Barulho esquizofrênico ao fundo. Viagem sub-orgânica dimensional perpassa camada espessa e árdua do código lógico categórico. Alguns instantes de retenção da imagem. Acorda. Despertador. Sete. Um ponto em cima do outro. Zero. Zero. Mão empurra botão. Barulho medicado. Silêncio. Ônibus freando ao fundo. Silêncio. Buchicho de amanhecer. Persiana. Nuvem cinza. Vento frio. Gotas finas caem sobre o parapeito, de José, que divide dois mundos, duas realidades. A realidade da fantasia e a fantasia do dia-a-dia. Carnaval de alegoria. Terno e gravata: bom dia?
Como vai a sua tia? A melancia ficou passada e o vendedor carioca tentou passar o suco pro cliente. Conseguiu. Dura realidade. E agora, José? Vai ao trabalho. Ao mesmo trabalho há treze mil, setecentos e oitenta e três dias. Nada de novo. Ou de novo nada?

2 comentários:

  1. Olá Seu Molina,

    Só não entendi o que há de infantil neste conto...

    Você explicaria?

    Grata

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  2. Seu Molina,

    Acho esse texto ótimo; tem umas sacadas muito boas.
    O sonho contrastando com a realidade, com a dura realidade.
    Como o senhor consegue ter essa visão tão cara do cotidiano das pessoas?

    De novo, Marcia.

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