ACAMPAMENTO, parte 1


Num dia, em mil, novecentos e noventa e um, em julho, Eduardo e Daniel vão a um acampamento, de sítio desconhecido, gente aterradoramente desconhecida para dois jovens pré-adolescentes de dez anos cada, habituados ao conforto do lar, aconchego das forças comunicativas de amizade, camaradagem, prosperidade...
Um lugar feito de muito paralelo concreto sobre construção sub-terrestre de fiação e cabo elétrico e tubulação de esgoto do Sr. Amanco.
Poucas gramas verdes, cuja tonalidade se confunde com a areia que sobrou do grão da pedra de fogo que o diabo amassou. Que Deus nos livre e guarde, irmão!
Aterrorizante. As flores não têm cheiro e as mexericas qual sabor seco sem gosto, insosso. As pessoas, uns brutamontes canibais carnavalescos de referência epistemológica quase nula. Os monitores, uns débeis mentais da idiossincrasia revitalizante da auto-estima de um jovem pré-adolescente que pouco saiu do tubo protetor.
Vale pesar, neste momento, alguns fatores importantes, justificadores do método e da linguagem adotados. Primeiro, porque são memórias do pré-adolescente. Segundo, porque este episódio se encontra há dezoito anos entre os cordões da metabiografia sensorial.
O irmão mais velho, por um minuto que seja, se imbui do espírito de proteção e cuidado alheio.
O outro o admira e agradece a sua presença, vacilante contudo, naquele lugar do qual pouco se tem impressões positivas.
Os dez dedos se unem com força e impressionantemente. Muito forte. Nada pode os separar.
A noite é fria com a solidão daquele que observa as estrelas e acha tudo lindo e o brilho prateado que reflete suas silhuetas na imagem da lua, finíssima, presente naquele show anti escatológico, que fortalece o viver do ser humano...medo. inseguro.

Um comentário:

  1. Seu Molina,

    Esse texto realmente angustia.
    Talvez alguém possa lê-lo e sentir-se culpado (a) pelo que causou naqueles pobres pré-adolescentes, mesmo tendo feito com a melhor das intenções.
    Esse episódio deve ter marcado todos os envolvidos.

    Abraços confortantes no Daniel e no Eduardo.

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