Olhe os muros - tributo à natureza!

Olhe os muros (tributo à natureza) / Wall People (back to nature) Já se ouviu falar por aí do grande alcance que as ditas máximas da sabedoria popular têm sobre o consciente coletivo. E, não por acaso, a potência midiática da larga cobertura de uma construção frasal bem elaborada, disposta, por exemplo, sobre a face cinza enrugada de um muro de concreto, ganha impacto soberano nos interiores de uma displasia fibrosa que protege um cérebro pouco, muito ou médio capacitado para absorver as novidades ao seu redor. A possibilidade que uma dessas máximas quaisquer ganhe uma dimensão urbana se concretiza ao ser estampada sobre um muro. Neste ano de 2014, o pessoal do “olhe os muros”, na esteira da galera do “wall people”, traz à reflexão o tema ‘tributo à natureza’. Pensando pelo lado simbólico da coisa, a própria construção de um muro vai de encontro com a idéia de elogio à natureza. Isso porque, o muro é o representante máximo da quebra dos paradigmas que se pretendem naturais. Deixemos de lado, por ora, para posterior retorno no breve tempo, a questão da natureza. Tratemos, agora, pois, de uma situação mais urgente e que guarda relação direta com a dita questão. Outro dia, num lugar qualquer – e em outros vários dias e vários outros lugares - vi estampada em algum lugar a seguinte máxima de sabedoria popular: VOCÊ, PRÉDIO, TENHO TÉDIO VOCÊ, PRAÇA, ACHO GRAÇA Percebe-se, dessa máxima que nos serve de exemplo perfeito para a demonstração a seguir, que evidencia-se uma contradição no tocante à porção hermenêutica do termo. Ora, é como se se desejasse afirmar a elaboração de um conceito negando-o inteiramente. O muro, tal como o prédio, encontra-se na ordem dos objetos construídos pelo homem, em total e absoluta oposição à natureza da natureza em si. Já a praça traz, colada à sua imagem, a pretensão de desvencilhar-se de uma concretude humana. É claro que, se levarmos ao pé da letra tal consideração, podemos detectar uma enorme falácia sob o ponto de vista da observância urbanística. A praça Roosevelt, em São Paulo, por exemplo, representa o cenário mais abjeto possível – tendo em vita a necessidade de estabelecer-se uma relação direta entre praça e natureza – uma vez que trata-se de uma praça inteira de concreto. Nada mais intrigante. Mas não vamos nos ater aos detalhes. O que nos interessa aqui é fazer um elogio a essa maravilhosa iniciativa que a galera do “wall people” e “olhe os muros” está tomando, oportunidade em que se atinge dois coelhos com uma cajadada só, se me é permitido o uso dessa força de expressão. Em primeiro lugar, abrir um leque de possibilidades para intervenção urbana, artística e social, determinando um novo padrão de ocupação do espaço público e, em segundo lugar, retomar esse assunto que nos é tão caro nos dias de hoje, qual seja, a importância da natureza na vida do cidadão comum megalopolitano e sua influência positiva numa urbanidade menos caótica e mais verde. Vida longa ao projeto “olhe os muros” e seu tributo à natureza. Seu Molina!

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